
São Paulo - O visionário projeto do cientista americano Nicholas Negroponte, fundador do laboratório de novas tecnologias do MIT (Massachusetts Institute of Technology) completa seis anos ainda longe da meta de oferecer notebooks por US$ 100.
Originalmente, a ideia de Negroponte era levar a inclusão digital às escolas de todo mundo por meio de notebooks de baixo custo, com aplicações livres embarcadas e acesso à redes sem fio. Durante a FISL 12, INFO conversou com dois representantes brasileiros da OLPC, fundação criada para disseminar o laptop de US$ 100 no mundo, os desenvolvedores de ensino Juliano Bittencourt e Silvia Kist.
Info - Os laptops da OLPC chegaram às escolas dos países em desenvolvimento, como planejado em 2005?
Nós já estamos em 40 países, às vezes com a venda em massa dos XOs, como são chamados nossos notebooks e, outras vezes, apenas com experiências piloto, como acontece no Brasil.
Info - Quantos XOs há nas escolas brasileiras?
Pouco mais de 20 mil. São projetos piloto, quase sempre apoiados em doações que a OLPC fez às escolas. Em 2006, o Governo Federal esteve perto de comprar milhares de unidades da OLPC para distribuir nas escolas. A licitação pública para a compra, no entanto, foi vencida pela CCE, que ofereceu uma máquina da Intel.
Info - O laptop de US$ 100 ainda custa muito mais do que o planejado?
Hoje um XO tem custo em torno de US$ 200. Se você encomendar milhões de máquinas, o preço cai. Mas como as compras são pequenas, ainda estamos distante da meta dos US$ 100.
Info - Onde o projeto da OLPC é mais bem-sucedido?
Sem dúvidas no Uruguai, onde 100% dos alunos da educação fundamental tem acesso à web e material didático por meio de um XO. Por lá, houve uma decisão muito forte do governo de investir em inclusão baseada em plataformas abertas (o XO roda uma distribuição Fedora). Em países pequenos, é mais fácil implementar estes projetos. Já em locais como o Brasil, há mais interesses políticos envolvidos e torna-se mais complexa a missão da OLPC.
Info - Há outros países que adotaram em massa os notebooks XO?
Sim, o Peru, por exemplo, têm uma base de XOs de mais de 120 mil máquinas. Nós estivemos nos últimos três anos vivendo em Ruanda, onde a OLPC tem uma experiência muito relevante. O país está tentando organizar sua reconstrução após os conflitos étnicos dos anos 90. Não há indústria de livros e material didático. Por isso, um notebook de baixo custo com conteúdos educacionais embarcados, como o XO, foi uma solução perfeita para eles.
Info - O XO usado em Ruanda acessa à web? Vocês adotaram o modelo com manivela, que gera a própria energia?
Adotamos modelos sem manivela, mas há um esforço muito grande de eletrificação das escolas, o que viabiliza o uso do notebook. No entanto, quase não há acesso à web. Apenas recentemente o governo local concluiu a construção de um anel de fibra óptica em torno da capital, Kigali. No resto do país, quase não há internet. Também não há cabos internacionais que liguem Ruanda ao mundo. Por lá, a conexão com as redes internacionais é feita por satélite.
Info - Mas o acesso às redes não é a base do projeto da OLPC?
Sim, mas em Ruanda isso talvez não seja tão fundamental. Mais de 88% da população fala apenas o idioma local, o Kinyarwanda, e não há muito conteúdo na web disponível nesta língua. Desse modo, o conteúdo embarcado no PC é o mais importante. (Nota: as outras línguas faladas em Ruanda são o francês, o inglês e o suali).

Info - Com o advento dos tablets, a ideia da OLPC não ficou superada?
Não, pois nosso projeto é levar acesso à tecnologia e à web via dispositivos portáteis. Nós também estamos estudando o desenvolvimento de um tablet, que poderá rodar Android ou Fedora. Como as telas sensíveis viraram uma commodity no mercado, não será caro produzir um tablet. Vale lembrar que o projeto da OLPC é, de certa forma, precursor desse movimento de mobilidade. Afinal, quando Negroponte criou o XO não existiam os netbooks. Nós antecipamos esse movimento da indústria.

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